Eventos climáticos extremos têm ocorrido ao redor do mundo, e o Brasil não fica de fora. O furacão Milton, alimentado por temperaturas oceânicas elevadas, trouxe destruição no Atlântico, enquanto o Rio Xingu enfrenta uma seca histórica, e chuvas raras atingem o deserto do Saara. A Cientista ambiental e mestre em Ciências Atmosféricas pela Universidade de São Paulo, Marina de Oliveira, explica que é preciso diferenciar a chuva no deserto com a seca no Rio Xingu.
"Eles não estão relacionados, um não aconteceu por conta do outro. Esses dois eventos, eles também não estão relacionados diretamente com as mudanças climáticas. Quando a gente vê essa questão de chuva no Saara, a gente vê que de fato acontece precipitação nessa região no verão, mas o que aconteceu recentemente foi que o que era previsto para chover em um ano, em torno de 200 milímetros nessas regiões, nas áreas que foram mais afetadas, que difundiram todas as imagens de poças de água, né, lagoas mesmo de águas no meio do deserto, essa quantidade de chuva normalmente acontece em um ano e aconteceu só durante esse evento, então a gente vê que houve uma situação que não é comum para a região, mas que a gente teve uma influência do que a gente chama de zona de convergência intertropical, que é a famosa ZCIT, na verdade, é um sistema que acontece na atmosfera em que a gente tem. Uma banda de nebulosidade e que ela fica ali na região equatorial e, de fato, para esse evento ela estava deslocada um pouco mais para cima e esse sistema favorece a chuva. Então, aconteceu uma situação em que não é comum para essa região, de fato, ela estava mais deslocada para cima e fez com que essa chuva ficasse muito mais intensa nessa região.", afirma Marina.
Já sobre a seca no rio Xingu, a especialista explica que é uma região que tem bastante precipitação, e que durante dois anos a região foi afetada pelo aquecimento das águas superficiais, e esse sistema não favorece a chuva na região do Xingu.
"Hoje estamos no que a gente chama de situação neutra, é uma situação em que não está acontecendo o El Niño, mas a gente está em uma transição, que chamamos de La Ninã, que é o oposto disso. Então, é o esfriamento dessa região, da mesma região que acontece o El Niño, mas é um esfriamento das águas superficiais. E o La Niña, ele favorece a chuva na região do Xingu. As previsões afirmam que realmente ter chuva nessa região, assim que a gente entrar nesse momento de La Niña, mas no momento a gente se encontra nessa transição, né? Nessa situação neutra e amena. Mas é importante falar também que a região toda do Xingu, o Norte em si, ela teve registros de muito desmatamento nos últimos anos. E quando a gente fala de desmatamento, a gente também tá falando das nascentes dos rios. Já tem esse agravante para a seca. Então, uma situação em que deveria ser normal, diante de um cenário de El Niño intensificado, porque foi um El Niño bem intenso, ou seja, uma seca já estava prevista para essa região por conta desse El Niño, a gente teve também ajudando esse processo de seca também nas questões do desmatamento, que isso impacta as nascentes do rio. Uma coisa vai ajudando a outra e vai prejudicando para que a gente tenha, para que a gente pudesse hoje ver a seca intensa na região do rio Xingu.", conta a especialista.
Ela destaca que, mesmo que as emissões de carbono fossem drasticamente reduzidas, o clima já sofreu transformações irreversíveis. Além das secas, há uma intensificação dos extremos de chuva, calor e frio, revelando um clima mais imprevisível e com desafios cada vez maiores.
Esses eventos ressaltam a necessidade de ação imediata e de políticas que abordem a mitigação e adaptação às mudanças climáticas, sob o risco de enfrentarmos um futuro ainda mais incerto e impactante para o meio ambiente e a sociedade.