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Acusado de ser mandante do massacre do presídio de Altamira será julgado em Belém

Decisão dos desembargadores da Seção de Direito Penal atende pedido de desaforamento para garantir imparcialidade do júri

Markelle Lereno
Por: Markelle Lereno Fonte: Tribunal de Justiça do Estado do Pará
31/07/2024 às 10h19 Atualizada em 01/08/2024 às 15h31
Acusado de ser mandante do massacre do presídio de Altamira será julgado em Belém
Foto: Arquivo/TV Vale do Xingu

Luziel Barbosa, acusado de ser um dos mandantes da rebelião no Centro de Recuperação Regional de Altamira, no sudoeste do Pará, em 2019, será julgado em Belém. O pedido de desaforamento do julgamento do réu foi deferido pelos desembargadores da Seção de Direito Penal na segunda-feira (29). O julgamento, que inicialmente ocorreria na Comarca de Altamira, será realizado na Comarca da capital paraense.

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O pedido desaforamento - a transferência do julgamento de um crime doloso contra a vida pelo Tribunal do Júri, realizado pela defesa do réu, alegou dúvidas sobre a imparcialidade do júri devido à grande exposição do crime pela mídia.

A defesa solicitava a transferência para a Comarca de Marabá, sudeste, mas o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) argumentou que o julgamento deveria ser em Belém para garantir a segurança do Fórum local e a imparcialidade do júri, considerando a repercussão do caso.

Os magistrados presentes acompanharam o voto do relator, desembargador Leonam Gondim da Cruz Júnior, que destacou que tanto a defesa quanto o MPPA e o juízo de 1º grau concordaram com a necessidade de desaforamento. "Comprovada a dúvida fundada sobre a imparcialidade do júri nas Comarcas da região, é necessária a determinação do desaforamento do julgamento para a Capital", explicou o relator, citando o artigo 427 do Código de Processo Penal.

Desaforamento

O desaforamento é um mecanismo jurídico essencial para assegurar que julgamentos ocorram de forma justa e imparcial, protegendo os direitos das partes envolvidas. Basicamente, desaforar um julgamento significa transferi-lo de uma comarca (região judicial) para outra. Esta medida é aplicada quando há motivos para acreditar que a imparcialidade do julgamento na comarca original pode estar comprometida.

A necessidade de desaforamento pode surgir em várias situações. Por exemplo, se uma das partes do processo, seja o réu ou a vítima, tiver grande influência ou poder na comarca original, isso pode afetar a imparcialidade do julgamento. A exposição midiática intensa de um caso também pode criar um ambiente onde os jurados ou o juiz possam ser influenciados pela opinião pública, ou por pressões locais.

Ao mover o julgamento para uma comarca diferente, busca-se garantir que ele ocorra em um ambiente mais neutro, aonde as partes envolvidas não exerçam influência indevida sobre os jurados ou sobre o curso do processo. Dessa forma, o desaforamento protege a integridade do sistema judiciário, assegurando que a justiça seja realizada de maneira justa e equânime para todos os envolvidos.

Massacre do presídio de Altamira

O episódio, registrado há 5 anos, foi a maior tragédia carcerária do Pará e a maior do país após o massacre do Carandiru. No dia 29 de julho de 2019, um conflito entre grupos rivais no Centro de Recuperação Regional de Altamira resultou na morte de 58 detentos, a maioria por asfixia e 16 deles decapitados. 

A rebelião iniciou por volta das 7 horas de uma segunda-feira, quando internos do bloco A, onde havia presos de uma organização criminal, invadiram o anexo onde estavam internos de um grupo rival. Após a primeira ação, o anexo foi trancado e os presos atearam fogo no espaço.

O caso teve grande repercussão nacional e internacionalmente. Na época, jornalista de várias parte do país e do mundo acompanhavam a identificação e liberação dos corpos, além da situação das famílias que aguardavam por notícias de familiares que estavam custodiados no prédio.

Devido ao número de mortes, o uso de um caminhão foi necessário diante da falta de estrutura do prédio do Centro de Periciais Científicas no município, que possuia apenas seis câmaras frias e teve que contar com reforço de profissionais da sede do IML de Belém, para os trabalhos de necropsia e identificação.

Houve uma grande espera pela identificação, com a necessidade do exame de DNA, e coleta de materiais biológicos dos familiares, que foram encaminhados para a capital do estado. Durante a transferência de detentos sobreviventes para Marabá, sudeste, um dia após o massacre, mais quatro detentos foram mortos em um caminhão-cela, totalizando 62 mortes.

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