A terceira melhor amêndoa do país, o sítio referência para produtores de cacau espalhados pelo mundo, fica em Brasil Novo, região sudoeste do Pará. Um casal que recebe 50% a mais do preço do mercado pelo cuidado com a lavoura, essa é a história da família Preuss.
De Santa Catarina, região sul do Brasil, dona Verônica veio com seu Renato, conhecer as terras adquiridas pelo sogro no final da década de 90. Os dois decidiram trocar a profissão de operários de uma fábrica para produzir no meio da Amazônia.
Hoje o Travessão da 20 tem cerca de 400 famílias. Mas nos anos 2000 o acesso à educação e a chegada da eletrificação rural foram pautas abraçadas e conquistadas pelo casal.
"A gente chegou aqui e só tinha o fundamental menor. Como eu e meu marido éramos formados, aí nos oferecemos como professores. Ele dava aula e dava aula para o fundamental maior.", afirma Verônica Preuss.
De 22 alunos para 220 até o ano em que decidiram sair da sala de aula para se dedicarem a propriedade rural: a família começou com a criação de bovinos, mas a virada de chave veio pouco tempo depois quando seu Renato plantou os primeiros pés de cacau.
A lavoura cacaueira foi usada para a recuperação de áreas degradadas. As árvores nativas realizam o sombreamento, e o esterco do gado de leite, é fermentado e vira adubo na plantação.
"Era pecuária, até na época era o meio de sustento que tinha porque o cacau não tinha preço. Então a partir de 2008 a gente percebeu que só o gado não dava sustentabilidade para a propriedade. Aí eu decidi plantar meus primeiros pés de cacau em 2009.", conta José Renato Preuss.
A busca pela certificação em um mercado que incentiva a sustentabilidade foi a primeira estratégia usada pelo casal que hoje comemora o retorno financeiro com uma amêndoa disputada pelos maiores fabricantes de chocolate de todo o mundo.
A família Preuss está entre os mais de 60% dos produtores de cacau que utilizam sistemas agroflorestais. A medida que reduz o desmatamento em território paraense.
Na hora da colheita, a regra é tirar apenas os frutos maduros e sadios. E no Sítio o negócio é todo em família. Recentemente, o genro criou uma máquina para retirar as sementes dos frutos.
Acompanhar o processo do chocolate fino exige habilidade e conhecimento técnico. Para se ter uma ideia, nos cochos de fermentação, existem várias reações bioquímicas, as sementes ficam por até sete dias e é necessário monitorar a temperatura.
"Esse embrião está morto, a gente chama da sangria do cacau, que é essa cor roxa que ele tem em volta da semente. É o momento em que ela não é mais semente, e sim uma amêndoa."
Já na barcaça, as amêndoas ficam entre 12 e 15 dias. Uma peneira foi desenvolvida pelo seu Renato para seleção das melhores que serão torradas.
"Desde o início, sempre quis aprender, a produzir um cacau de qualidade para a fabricação de um produto que tão procurado em todo o mundo que é o chocolate.", afirma o produtor de cacau.
E sobre esse assunto, dona Verônica, dá aula. Por meio de cursos de aperfeiçoamento virou chocolatier com reconhecimento: foi eleita pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) a empreendedora rural número um do estado do Pará e ficou em segundo lugar no ranking nacional.
A mini-indústria funciona atrás da casa da família pertinho da lavoura do cacau. Entre os produtos, bombons com castanha do Pará, cumaru e açaí. O nome da marca foi para homenagear a história dos Preuss que tem origem germânica. A ideia foi um presente da filha mais velha, antes de morrer, vítima de um câncer.
"A gente tinha o hábito de tomar chimarrão no final da tarde. Onde a gente também planejava o que faríamos na propriedade. E aí qual seria a marca do nosso chocolate? Foi quando minha filha perguntou: "Pai, como é que se escreve flor em alemão?", ele respondeu ser "Blumenn", e ela completou, "então está feito, Kakao Blumenn.", relembra Verônica Preuss.
Emocionada ao se recordar de Fernanda, dona Verônica também pontuou que seguir com o projeto é manter a memória dela viva. A caminhada continua com a filha caçula, a Fabiana. Acreditando que agricultura familiar produz bons frutos, e esse, em especial, é dos deuses sendo conhecido como ouro da floresta.
"Talvez o estado do Pará é promissor e privilegiado, talvez produza o melhor cacau do mundo.", finaliza José Renato Preuss.
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