A série Cacau da Amazônia - O ouro que vem da floresta, conta a história de pioneiros que chegaram na Transamazônica em busca de terras férteis. O ano era 1972 e a obra faraônica do governo militar trouxe famílias para povoar a região.
Em uma época onde garantir a permanência dos recém-chegados era prioridade, muitos órgãos se instalaram na região, um deles foi a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC). Cinco anos mais tarde, ganhou a sede própria em Altamira, em 1980.
Paulo Henrique Fernandes estudou na escola de formação da Comissão na Bahia e se tornou especialista no cultivo do cacau. Ele lembra que já naquele período era futurista porque enxergava que a Transamazônica pudesse ser um importante polo cacaueiro. E para isso, veio o incentivo para os primeiros cultivos do fruto.
"Aquele produtor que não veio da Bahia nem conhecia cacau. Quem veio de Minas, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, ou seja, eles não conheciam. Então foi um desafio para a que a Ceplac implantasse essas áreas de cacau que hoje aí estão.", conta o Coordenador Regional da Ceplac.
Além dos que foram trazidos pelo governo de Médici muitas famílias vieram por conta própria, foi o que aconteceu com a Gutzeit. Natural do Espírito Santo, o patriarca veio em busca de terras produtivas e foi pioneiro com o cultivo do fruto, chegou aqui no ano de 1979.
"Nosso plano de plantar cacau deu certo e muita gente começou a plantar cacau aqui.", relembra Ervino Gutzeit, pioneiro da Transamazônica.
Aos 91 anos, seu Ervino, vive no meio da floresta com mais de 300 mil pés do fruto dos deuses. O lugar recebeu o título de Reino do Cacau. No km 140 da BR-230, Uruará, sudoeste do Pará, os filhos do casal Ervino e Erna seguiram a história dos pais e expandiram a produção na Fazenda Panorama, a amêndoa foi certificada e consta na lista das 50 melhores de todo o mundo. Além disso, a lavoura gera emprego e renda: são cerca de 50 famílias que trabalham direta e indiretamente na propriedade.
"Na época da safra é bem mais, é um prazer ver os nossos parceiros felizes, tendo a oportunidade de ter seus próprios bens, muitos depois compram a própria terra e continuam cultivando cacau. A gente ajuda na genética também fornecendo mudas.", conta Elcy Gutzeit.
Elcy Gutzeit é conhecida como a imperatriz do cacau. A novidade é que agora mais 140 mil novas plantas serão cultivadas no sistema de fertirrigação.
"Será um trabalho de enxertia com um cacau fertirrigado, queremos ser um projeto vitrine.", afirma a produtora de cacau.
Alta produtividade, cuidado com as plantas. A floresta em pé segue o sistema cabruca, usado muito na Bahia, que mantém às árvores nativas para fazer o sombreamento na lavoura. Para a família, o chocolate produzido, que já foi premiado em Paris, é um marco e o símbolo da preservação do meio ambiente.
"Fazendo jus ao nome Panorama, nós queremos ser o panorama do cacau. Todos os modelos viáveis queremos ter nas propriedades da família.", explica Helton Gutzeit.
"Vem dando muito certo, as plantas já estão com três ou quatro anos já produzindo acima de um quilo. (...) Já conseguimos a amêndoa da origem do cacau da mata por R$ 45 reais o quilo."
Helton Gutzeit cresceu na Suíça, retornou ao Brasil ainda adolescente, e se tornou o braço direito da mãe na consolidação do projeto sustentável.
"É uma história de amor e ódio, eu via aquele sofrimento com mosquito, lama e poeira e eu falava que não queria voltar. Então hoje fico muito grato por ter voltado, porque acabei de virar homem aqui. A questão da responsabilidade, o divisor de águas foi perceber que dá para ser criativo sendo agricultor.", afirma Helton Gutzeit.
Até 1974 a região tinha 650 hectares do fruto, 49 anos depois, esse número saltou para 185 mil hectares de Novo Repartimento até Rurópolis. O Pará se tornou líder na produção nacional e atualmente produz cerca de 140 mil toneladas por safra.
"A CEPLAC é um ator desse processo todo, ela foi convocada para fazer um trabalho e ele foi bem feito, hoje nós colhemos os frutos.", afirma Paulo Henrique Fernandes.
Um número que a Ceplac se orgulha e que faz os cacauicultores acreditarem no futuro de mais uma geração que cresceu no meio da lavoura. Para esse veterano, a estrada vermelha continua sendo um desafio para os produtores. Cinquenta anos depois, a poeira e a lama dificultam o despacho das amêndoas para outros estados e até países.
"Nós estamos aqui animados com o cacau e aguardando o asfalto que nunca chegou.", pontua Ervino Gutzeit. "O que representa o cacau para a família Gutzeit? Representa esperança de dias melhores para todos nós da Transamazônica.", finaliza Elcy Gutzeit.
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